A sentença final
Lá estava ele. Ofegando.
Cansado. Acabado. Preso por fortes tiras de couro, o sentenciado não emitia uma
palavra. Não chorava, ou implorava por perdão. O único som do local era a sua
respiração, descompassada.
Os outros homens se olhavam,
curiosos. Isso nunca havia acontecido. Nunca um dos destinados à morte
permanecera calado. O silêncio prolongou-se, dando tempo para os carcaceiros
examinarem o rosto jovem, cheio de hematomas. Para completar, havia, em sua
bochecha, um corte superficial. Parecia sentir dores, mas ainda assim não
falava nada. O pior, no entanto, estava logo acima do nariz, levemente
quebrado.
Os olhos. Fixos na parede,
pareciam prestes a furá-la, de tão intensos. Todos extremeceram, até que um dos
homens, o que parecia ser o líder pigarreou e, com uma voz parecendo filtrada
por pregos “Acho que é isso”. Passou-se um tempo para que os outros assentissem
e começarem a preparar a máquina. Do sentenciado, nada saia.
Após um tempo, que parecera a
eternidade, enfim estava pronto. E o destinado à morte sentiu. Deu um meio
sorriso, sem humor. Frio e calmo. Por algum motivo, o mesmo fez todos tremerem
de suas bases. O homem falou “Ativem”.
Por que o sentenciado queria que
ativassem a máquina? Por que sorrira? Por que queria que ativassem a máquina
que apenas traria dor a ele?
“Eu mereço isso. Sei que o que
eu fiz foi errado e arrependo-me. Por isso que, ao matar-me, vocês estarão
fazendo um favor à humanidade”. Seu olhar desprendeu-se da parede e fixou-se em
cada um dos homens da sala. Nele, estava toda a dor contida. Todo o sentimento
de arrogância havia desaparecido, abrindo espaço para o arrependimento. Por
fim, um dos homens respirou fundo e caminhou até o botão, prestes a ativar a
tal máquina.
O tempo. Agoniantemente lerdo. E
quando apertou, um grito saiu dos lábios do jovem sentenciado. De alguma
maneira, o som foi pior que mil corvos poderiam fazer em uma hora. O motivo? O
berro parecia ser de tranquilidade, alívio. Com toda a certeza, aquele não era o
som esperado de alguém prestes a morrer.
A tortura durou por... Horas?
Minutos? Segundos? Ele não sabia. Na verdade, não importava-se. Algo como o
tempo não merecia parte de sua atenção, mesmo com a morte próxima.
Finalmente, ele expirou seu último
suspiro e, com os olhos ainda abertos e fixos à parede, morreu. Morreu na mesma
hora em que uma mulher abria a porta do local e, ao ver a cena, soltou um grito
aterrorizado.